Regra geral, hoje em dia há muita gente
que decide emigrar por causa da tão famosa “crise”. No entando, a emigração
pode também ter como pretexto o foro psicologico. Sentimental, vá. Um refúgio,
como no meu caso.
Sempre tive uma relação bastante
complicada com a minha família imediacta (pais e avós maternos). Filha única.
Neta única. Toda aquela atenção, todos aqueles receios, medos e histórias do
arco da velha sufocavam-me. Mentalidades e realidades completamente opostas à
minha. Eu sempre acreditei em arriscar. Tentar, pelo menos. Principalmente
quando não tinha nada a perder. “Vão-se os aneís, ficam-se os dedos”, como diz
a minha avó. No culminar de uma vida famíliar meio disfuncional, desde os 17
anos vivia um amor assim meio confuso. Queria escrever “pela pessoa errada”, mas 12
anos depois ainda nem cheguei a essa conclusão. Durante cerca de 6 anos vivi um
amor doentio. Mas nao deixava de ser (é?) um amor, um sentimento que me fazia
feliz mas ao mesm tempo me consumia a cada dia que passava. Sempre que tentava
seguir com a minha vida, sempre que as coisas pareciam-se encaminhar lá vinha
ele, qual lobo mau dos três porquinhos que com um simples sopro conseguia
destruir a minha casa de palha. Era como se andasse constantemente a reunir os
meus pedaços. De 3 em 3 meses. De 6 em 6, De ano a ano. Cruel, o filho da puta
(coitdada da mae, que nao tem culpa nenhuma. Um amor de pessoa). Estáva
realmente cansada. Desgastada. Seca, até. Entretanto, já nem sei bem como numa
idao ao Algarve conectei com o E. Um rapaz assim porreiro. Um ano mais velho.
Doce. E a cuisa fluíu. Era doido por mim. Um ano depois de estarmos já com uma
relação estável, ele começou a falar em emigrar. A familia maternal estava bem estabelecida.
Ajudar-nos-ia. Teriamos trabalho, cama, comida e roupa lavada mal chegassemos.
A ideia nao me soou nada mal. Eu sempre quis emigrar. Sempre disse aos meus
pais “eu nao vou morrer aqui”. Eles é que nunca me deram ouvidos. A relação
fluia, eu estava apaixonada pelo E., e sair dalí representaria a minha
liberdade. Não ter que conviver diariamente com tudo aquilo que me atormentava
pareceu-me o ideal. Soltar todas as amarras daquela cidade que nao me deixavam
seguir plenamente em frente.
E vim. Em 2008 entrei num aviao com
destino a Vancouver. A tentar fugir de mim. A fugir de tudo aquilo que mais
amava, os meus pais, os meus amigos, a minha cidade e o tal. Ainda olhei para trás, naquele aeroporto,
cheio de desconhecidos, gente que me quer bem com a esperanca que ele
aparecesse para me resgatar (sim eu sei,
vejo muitos filmes).
Em suma, fugi de tudo aquilo que mais amava,
que me perturbava e que não tinha nem mais coragem nem forças para enfrentar. A
emigração nao foi uma decisao tomada de ânimo leve. Muito menos uma
necessidade. Nem nunca tentei procurar emprego na minha área. Empacotei a minha
vida em 2 malas de 32 kilos e meti-me num avião para um continente, aqui bem do
outro lado do mundo. But guess what? Não foram só as roupas que vieram. Todo o
resto empacotou-se sozinho e emigrou também. A bagagem física. E a cabra da
psicologica. Intrusa. A emigração foi (é) pura e simplesmente um refúgio.
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