Esta é a história
de uma jovem que quis seguir, à força toda, o seu grande sonho de trabalhar em
África! Esta é a minha história! (Muitooooo resumida).
Desde que comecei o
estágio curricular do meu curso (Educação de Infância e Ensino do 1.º Ciclo do
Ensino Básico) e a perceber melhor o mundo das crianças, que senti uma enorme
vontade de trabalhar com crianças, digamos, diferentes. Crianças de outras
raças, de outras culturas. Crianças que não tenham tudo à mão, tudo tão
facilitado, como as crianças com quem estava a trabalhar. Crianças que têm
pouco, ou nada e, que, talvez por isso, são crianças que dão muito mais valor
ao pouco que têm e valorizam muito mais a escola, porque sabem que o futuro delas
pode depender desse esforço, porque talvez estejam cansadas de viver no mundo
que vivem e tenham vontade de conhecer mais para poder um dia mudá-lo. Pelo
menos é assim que eu vejo as coisas. Pelo menos até alguém tentar fazer-me mudar
de ideias um dia. Ou não!
Ainda antes de
terminar o mestrado e, devido à famosa crise, decidi que procurar trabalho o
mais depressa possível era uma escolha mais que acertada. Comecei então a procurar.
Durante um ano e pouco passei por anúncios que recrutavam para Timor, Guiné,
Moçambique, São Tomé, Cabo Verde. Um sonho! Desvantagem? Não remunerados! O que
não me dá jeito nenhum porque nem ganhei o euromilhões, ainda, nem tenho
descendência aristocrática. Procurei, até que um dia, no meio de tantos “não
remunerados” vejo o anúncio perfeito “Educadora de Infância para Angola”. Fui
ver e era remunerado! É uma empresa privada que vai receber crianças, com mais
possibilidades que eu provavelmente. Mas temos que começar por algum lado, certo?
E achei que só o facto de ir para Angola era dar já o maior passo! Concorri,
claro! E claro também que sempre achei que não só não ia ser chamada, como
achava que nem sequer me iam responder, pois toda a gente sabe como é difícil
alguém sem experiência na área arranjar emprego. Mesmo assim decidi enviar o
currículo. Heis que passadas umas 3 ou 4 horas (sim horas!), recebo um e-mail
de resposta com várias perguntas sobre mim e a marcar entrevista! Fiquei louca!
Não consegui adormecer nessa noite! Passados uns dias lá fui à entrevista onde
me foram dadas todas as informações sobre a empresa e condições, e depois de 3
horas à conversa… disseram-me para começar a tratar do passaporte e dos
documentos necessários para o visto! Não estava em mim com tanta felicidade!
Apetecia-me gritar ao mundo, chegar à rua e berrar tão alto que toda a gente
ficasse a saber, mas depois controlei-me, não fossem achar-me louca e
despedir-me ainda antes de assinar o contrato!
Comecei então a
tratar da papelada toda (e que papelada!), dediquei-me a terminar o curso para
que, quando terminasse, poder embarcar. Estava tão enganada…
Acabado o curso,
idas intermináveis ao consulado, papelada tratada, listas de coisas a não
esquecer em Portugal, pensava que estava pronta a dar o último passo, pedir o
visto. Mas como diz o ditado, a pensar…! E diz muito bem o ditado! Faltava, e
falta ainda, receber muitaaaaa papelada que diz respeito à empresa angolana,
porque aquilo por lá parece que ainda funciona um bocadinho a carvão (sem
maldades, que eu cá gosto muito de carvão!). E pronto, resta-me senão esperar,
esperar, esperar até que cheguem os tão desejados documentos para poder seguir
com a minha vida em frente!
Entretanto, fui
contando claro, aos pouquinhos, para não se fazer grande alarido disto, aos
meus amigos e conhecidos deste enorme passo. Reações? Amigos: na boa! Já sabiam
que isto ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Conhecidos: boca aberta! Algumas
até se ver o “sininho”. E que giros que alguns são! Eheh. Fui ouvindo os mais
diferentes comentários como: “ganda maluca”, “tás louca?”, “estiveste a beber o
quê?”, “ai tão engraçado”, “ai quem me dera”. Mas houve dois que se destacaram
mais, que foi o “arranja-me para mim também lá” e o “que corajosa”.
Relativamente ao “arranja-me para mim também lá” veio tanto de jovens como de
pessoas ditas “com uma certa idade”, de pessoas que eu até estava à espera e de
pessoas que eu achava que quem as arrancasse de dois quarteirões de casa
morriam (aqui fui eu que mostrei o meu sininho ao mundo). Se eu pudesse
arranjava sim, para quem quisesse ir, mas infelizmente não é assim tão fácil…
Relativamente ao comentário “que corajosa”, não fiquei de boca aberta, mas
fiquei com o cérebro trocado, também pela quantidade de vezes com que o ouvi e
continuo a ouvir. Não me vejo como corajosa, a ter um ato de coragem, pelo
menos não neste aspeto. Não? Não! Porque acho que para realizarmos os nossos
sonhos não precisamos de coragem, precisamos de atitude e determinação. Só
assim conseguiremos realizar os nossos sonhos e sermos felizes, a fazer o que
realmente gostamos.
E um dia… um dia
vou conseguir ter os dois trabalhos, o que me espera neste momento e nos tempos
livres, o de ajudar as crianças que precisam de mim, numa “escola” com duas
paredes, onde o giz é uma pedra. Onde vou ter um monte de crianças à minha
volta cheias de curiosidade, a querer conhecer o mundo. E eu vou ensinar-lhes
tudo o que sei! E o que ainda vou aprender!
Desejem-me sorte! :)
Boa sorte, Verinha! Ficamos a torcer por ti... :)